O drama do desemprego Parte II
De acordo com números divulgados recentemente, Portugal é o país europeu da OCDE, onde se trabalha mais horas por dia: em média, nove! Este facto, já de si alarmante no que isto significa em dificuldades de logística familiar, não tem, infelizmente, tradução na produtividade. A nossa produtividade foi, na última década, 60% da média europeia. A Grécia e a Espanha, por exemplo, têm índices de cerca do dobro do nosso.
Trabalhamos muitas horas, mas de forma pouco produtiva. A produtividade tem a ver com os factores de produção utilizados: capital, tecnologias, mão-de-obra, matérias-primas, etc. Quanto vai elevado for o quociente entre aquilo que é produzido e o factor de produção utilizado, maior o índice de produtividade.
Quanto maior a produtividade, melhor a competitividade. Produzindo-se mais bens com menos recursos, concorre-se mais facilmente nos mercados. Em termos de país, isso significa que se poderá exportar mais.
Por outro lado, o país europeu com maior produtividade é o Luxemburgo, onde mais de metade da população é portuguesa. Estranho, não é? Terá a ver com a capacidade dos gestores, com a motivação, com o clima, com a geografia, com quê?
A ligação da produtividade ao emprego é mais fácil de entender nos sectores exportadores: quanto mais competitivos, mais exportamos, mais investimento estrangeiro atraímos, mais emprego se cria.
Tenho para mim que o principal drama que vivemos é o do desemprego, que provavelmente atingirá os 20% este ano. Pelo menos uma em cada 5 pessoas em idade de trabalhar estará desempregada. A este número somam-se os tais que o INE designa por “inactivos desencorajados”, os que já desistiram de procurar emprego, cujo subsídio de emprego já se esgotou, e os que nunca trabalharam. Depois há os precários e os biscates.
O país está fracturado entre os que não têm emprego, ou o têm muito precário, e os empregados, os tais que trabalham muito tempo, mas mal, e que recebem na sua maioria ao fim do mês (ainda há os chamados recibos verdes, desde sempre desprotegidos).
O drama do desemprego é social e psicológico. É uma importantíssima causa de stress e depressão, mas também uma fonte de tensão social. De ódios, raiva, medo, xenofobia.
Para criar emprego, é preciso que haja empresas a crescer. Que haja investimento, que a produtividade aumente, que se produzam mais bens e serviços. Que os patrões arrisquem, que a justiça funcione. Que as pessoas se qualifiquem, aumentem as suas competências (iniciativa, motivação, foco, determinação, capacidade de aprendizagem). Nunca é demais repeti-lo: não é o estado que deve criar empregos, são as empresas. A nossa tradicional dependência do estado terá de, a bem ou a mal, acabar.