Aprender com as dificuldades
O ensino sofreu nas ultimas décadas grandes transformações, tanto em Portugal como na Europa e nos Estados Unidos. Hoje, os estudantes americanos debatem-se com incapacidades (designadamente a nível da matemática) que vêm progressivamente a inferiorizá-los, sobretudo em comparação com estudantes das mesmas universidades, oriundos da China e da Índia.
De facto, sabemos todos que desde há vários anos a tónica do ensino tem sido posta na facilidade com que o aluno aprende. Estudos recentes vêm demonstrar que esse não é o melhor caminho. Pelo contrário, tudo indica que, quando se colocam alguns obstáculos à aprendizagem, ela se torna mais profunda e duradoura.
Robert Bjork, da Universidade da Califórnia, usa o termo “dificuldades desejáveis” para descrever a noção contra-intuitiva de que o ensino se deve tornar mais difícil. Por exemplo, espaçar as aulas de forma a que os estudantes tenham de fazer um esforço maior para se lembrarem do que aprenderam da ultima vez, traz melhores e mais duradouros resultados.
A Professora Virginia Berninger da Universidade de Washington descobriu que a escrita à mão activava mais o cérebro do que o uso do teclado, inclusive áreas responsáveis pelo pensamento e pela memória. Não pretende obviamente defender o regresso ao uso da pena, mas demonstrar que um grau razoável de dificuldade é estimulante e produz melhores resultados a longo prazo.
Investigadores da Universidade de Amsterdão chegaram recentemente à conclusão de que, quando as pessoas são forçadas a lidar com obstáculos inesperados, reagem alargando o campo perceptivo, como se dessem um passo atrás para conseguirem ver o problema de outra forma.
A espécie humana, o longo da sua evolução, enfrentou obstáculos formidáveis. Conseguiu superá-los e progredir. As dificuldades são muito provavelmente um elemento necessário ao nosso progresso. Sem elas, induvíduos e sociedades amolecem, tornam-se menos resistentes, perdem coragem e determinação. Um excesso de dificuldades pode matar-nos, é certo. Mas, em dose razoável, torna-nos mais fortes e capazes. Mais resilientes, como se diz na linguagem da psicologia e do coaching.